De modo geral, pode-se dizer que a coerência é o ponto de partida da interpretabilidade e da compreensão de qualquer texto: é ela que garante
o “sentido” que um autor quer passar para um leitor, o qual, por sua vez,
terá condições de atribuir um sentido ao que leu. Essa interpretabilidade
depende de vários fatores como, por exemplo, a organização dos elementos
lingüísticos de um texto (conhecimento lingüístico), a situação em que
um texto foi produzido e/ou recebido (conhecimento do mundo), os pontos
comuns entre o emissor e o receptor (conhecimento partilhado).
A crise na agricultura brasileira será discutida pelos ministros porque hoje
está muito calor em Brasília. Juscelino, que não viu nem viveu crise econômica
alguma, morreu a fim de enviar um telegrama a suas filhas que,
por sinal, moravam em Paris, onde se estuda muito. Porém, o mundo ficou
chocado, já que o bailarino tropeçou e o avião caiu assim mesmo. Em
suma, toda crise é salutar.
Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável, imprestável.
Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem a
disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também
não pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado
de “imprestável” torna o termo contraditório com o que vinha sendo
enunciado. Não serve, portanto, como argumento.
Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável, imprestável.
Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem a
disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também
não pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado
de “imprestável” torna o termo contraditório com o que vinha sendo
enunciado. Não serve, portanto, como argumento.
Coerência textual: a coerência interna
Por coerência interna entende-se a compatibilidade de idéias entre as partes
que compõem o texto. Isso pressupõe:
1- Continuidade
Este aspecto da coerência interna diz respeito não só à estrutura formal do
texto, mas também, e principalmente, ao projeto a que o autor se propôs
ao escrevê-lo. Isto é, o tema, em seus vários aspectos (ou subtemas) é
desenvolvido de modo claro, sem retrocessos, desvios ou intercalações
inesperadas; existe, portanto, uma lógica argumentativa que conduz o
leitor para uma conclusão do conjunto. As idéias trabalhadas são todas
amarradas, encaminhadas para um desfecho.
2- Progressão
Intimamente ligada à continuidade, a progressão é responsável pela soma
de idéias novas que vão sendo comentadas e/ou analisadas, numa gradação
que valoriza o esquema argumentativo do texto: os argumentos mais
fortes, consistentes, devem ser os últimos a serem trabalhados, de modo
a prepararem uma conclusão objetiva e harmoniosa com o conjunto do
texto.
3- Não-contradição
De todos os aspectos ligados à coerência interna do texto, este é, sem
dúvida, o mais óbvio, já que o mínimo que se espera de um autor é que
ele tenha clareza com relação às suas posições diante de um determinado
tema e dos argumentos que poderá usar ao defendê-las. Portanto,
a não-contradição é responsável pela lógica do raciocínio subjacente ao
esquema argumentativo utilizado. Isso é válido para o texto como um todo
e também para suas partes. É preciso, pois, muita atenção, já que uma palavra
mal escolhida (vide o exemplo da argumentação para não se vender
o jogador Sócrates), um conectivo mal utilizado, uma falha de pontuação
podem comprometer a coerência do trecho (e, às vezes, de todo o texto).
A ambigüidade e as falhas na construção das frases (a falta de paralelismos,
por exemplo) e dos pensamentos (do pensamento circular, por exemplo)
são alguns aspectos da contradição.
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Um dos casos mais conhecidos entre nós, hoje em dia, é o de Gilberto
Dimenstein, que foi flagrado, duas vezes, pela Comissão de Vestibular da
Unicamp, cometendo enganos na construção do círculo vicioso. E os publicitários
que fizeram a campanha dos Biscoitos Tostines (“Vende mais
porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”) montaram
corretamente o pensamento circular.
4- Articulação de argumentos
Intimamente ligada à coesão textual, a articulação dos argumentos é responsável
pela clareza e objetividade do esquema argumentativo construído
pelo autor. Portanto, ela se fundamenta na compatibilidade entre os
diferentes termos utilizados na construção lingüística do texto. Cooperam
para essa articulação os elementos de ligação (anafóricos, catafóricos e
conectivos), os articuladores lógicos (expressões como: por exemplo, dessa
forma, além disso), os recursos temporais (conjunções e expressões
adverbiais de tempo, correlação dos tempos verbais), o nível de fala.