sábado, 28 de abril de 2012

INTERPRETABILIDADE

De modo geral, pode-se dizer que a coerência é o ponto de partida da interpretabilidade e da compreensão de qualquer texto: é ela que garante

o “sentido” que um autor quer passar para um leitor, o qual, por sua vez,

terá condições de atribuir um sentido ao que leu. Essa interpretabilidade

depende de vários fatores como, por exemplo, a organização dos elementos

lingüísticos de um texto (conhecimento lingüístico), a situação em que

um texto foi produzido e/ou recebido (conhecimento do mundo), os pontos

comuns entre o emissor e o receptor (conhecimento partilhado).

A crise na agricultura brasileira será discutida pelos ministros porque hoje

está muito calor em Brasília. Juscelino, que não viu nem viveu crise econômica

alguma, morreu a fim de enviar um telegrama a suas filhas que,

por sinal, moravam em Paris, onde se estuda muito. Porém, o mundo ficou

chocado, já que o bailarino tropeçou e o avião caiu assim mesmo. Em

suma, toda crise é salutar.

Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável, imprestável.

Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem a

disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também

não pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado

de “imprestável” torna o termo contraditório com o que vinha sendo

enunciado. Não serve, portanto, como argumento.

Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável, imprestável.

Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem a

disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também

não pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado

de “imprestável” torna o termo contraditório com o que vinha sendo

enunciado. Não serve, portanto, como argumento.

Coerência textual: a coerência interna

Por coerência interna entende-se a compatibilidade de idéias entre as partes

que compõem o texto. Isso pressupõe:

1- Continuidade

Este aspecto da coerência interna diz respeito não só à estrutura formal do

texto, mas também, e principalmente, ao projeto a que o autor se propôs

ao escrevê-lo. Isto é, o tema, em seus vários aspectos (ou subtemas) é

desenvolvido de modo claro, sem retrocessos, desvios ou intercalações

inesperadas; existe, portanto, uma lógica argumentativa que conduz o

leitor para uma conclusão do conjunto. As idéias trabalhadas são todas

amarradas, encaminhadas para um desfecho.

2- Progressão

Intimamente ligada à continuidade, a progressão é responsável pela soma

de idéias novas que vão sendo comentadas e/ou analisadas, numa gradação

que valoriza o esquema argumentativo do texto: os argumentos mais

fortes, consistentes, devem ser os últimos a serem trabalhados, de modo

a prepararem uma conclusão objetiva e harmoniosa com o conjunto do

texto.

3- Não-contradição

De todos os aspectos ligados à coerência interna do texto, este é, sem

dúvida, o mais óbvio, já que o mínimo que se espera de um autor é que

ele tenha clareza com relação às suas posições diante de um determinado

tema e dos argumentos que poderá usar ao defendê-las. Portanto,

a não-contradição é responsável pela lógica do raciocínio subjacente ao

esquema argumentativo utilizado. Isso é válido para o texto como um todo

e também para suas partes. É preciso, pois, muita atenção, já que uma palavra

mal escolhida (vide o exemplo da argumentação para não se vender

o jogador Sócrates), um conectivo mal utilizado, uma falha de pontuação

podem comprometer a coerência do trecho (e, às vezes, de todo o texto).

A ambigüidade e as falhas na construção das frases (a falta de paralelismos,

por exemplo) e dos pensamentos (do pensamento circular, por exemplo)

são alguns aspectos da contradição.

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Um dos casos mais conhecidos entre nós, hoje em dia, é o de Gilberto

Dimenstein, que foi flagrado, duas vezes, pela Comissão de Vestibular da

Unicamp, cometendo enganos na construção do círculo vicioso. E os publicitários

que fizeram a campanha dos Biscoitos Tostines (“Vende mais

porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”) montaram

corretamente o pensamento circular.

4- Articulação de argumentos

Intimamente ligada à coesão textual, a articulação dos argumentos é responsável

pela clareza e objetividade do esquema argumentativo construído

pelo autor. Portanto, ela se fundamenta na compatibilidade entre os

diferentes termos utilizados na construção lingüística do texto. Cooperam

para essa articulação os elementos de ligação (anafóricos, catafóricos e

conectivos), os articuladores lógicos (expressões como: por exemplo, dessa

forma, além disso), os recursos temporais (conjunções e expressões

adverbiais de tempo, correlação dos tempos verbais), o nível de fala.

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